terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Refém das personagens

É sempre bom falar de literatura. Sempre! Hoje eu estava conversando com uma pessoa e me empolguei. Chegou uma hora que eu disse para ela: "Eu acho que esse asssunto está chato para você". Ela sorriu amareladamente e disse: "Só um pouquinho!". Ah, o diminutivo! Como um "inho" parece amenizar uma ofensa, uma palavra desagradável, uma situação assustadora. Enfim, sem diminutivos, eu disse: "Acho que é interessante só para mim!".
Interessante é pouco. É um assunto que me absorve completamente. Especialmente quando, além de ler, estou escrevendo. Agora estou criando uma peça de teatro. Na verdade, estou criando esta peça há anos. Há anos eu convivo com estas personagens. Mas é ao longo do tempo que elas me revelam seus dramas, seus segredos. É como se fosse um novo amigo que você encontra e que só aos poucos é que conhece. Uma personagem nunca se forma num único dia, para mim. As minhas (se é que posso chamar de minhas, às vezes tenho a impressão de que, assim como os filhos, nós parimos personagens para o mundo!) demoram anos se desenvolvendo. E num belo dia, olho para elas e me dou conta de que elas cresceram. Amadureceram e estão prontas para desempenhar seu papel.
E nesse dia elas me sequestram. Viro refém delas, que me atrapalham fazer absolutamente tudo a não ser escrever suas peripécias, seus sentimentos, suas falas, seus silêncios. Nesse momento é Malu - a personagem da peça. Ela não me deixa em paz, às vezes no meio de uma conversa me lembro de uma frase que Malu diria. Às vezes estou tomando banho e escuto Malu dizendo que seu segredo deve ser revelado no final do segundo ato, antes, é cedo demais...
Tenho certeza de que Malu está aqui agora me dizendo que, ao invés deste post, eu deveria estar finalizando o primeiro ato, depois da cena em que ela faz sua entrada, nada triunfal...

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Big Brother, o sonho e a realidade

Nesta semana, achei notável o número de programas, artigos e posts sobre o programa "Big Brother Brasil". Na TV paga, programas de "aquecimento" para a nova edição, que estréia nesta terça feira, mostravam melhores momentos das edições passadas. Na internet, textos que apresentavam novos participantes e elogiavam o programa, sem dúvida um sucesso de audiência, mas não uma unanimidade, já que outros o criticavam. E ainda havia alguns textos interessantes que criticavam os críticos, chamando-os chatos, enrustidos - como se fosse impossível não apreciar um programa tão divertido e para alguns edificante, já que um dos posts afirmava que o BBB apenas "expõe o ser humano como ele é", o que instigaria a reflexão.
Particularmente, fico contente com as opiniões divididas. Polêmica significa que as pessoas ainda pensam (ai, que alívio!!!) e que o fazem de maneira diversa. Acho o BBB um fenômeno no mínimo interessante. O que leva as pessoas a se empolgarem tanto com ele? O que leva as pessoas a se envolverem apaixonadamente, gastarem tempo defendendo ou atacando participantes na internet, votarem milhares de vezes em seus "desafetos", assinarem canais para assistir horas e horas do cotidiano exposto das pessoas? Se a gente parar bem pra pensar, o adjetivo interessante pode ser substituído por bizarro.
Há algumas hipóteses que eu formulei para mim mesma - por favor, não sou socióloga e não estou fazendo grandes elucubrações acadêmicas! São hipóteses que eu penso aqui comigo mesma, sem citar Marx, Weber, Elias, Castel, Baumann ou Jesus Cristo!
Uma delas é que o Big Brother representa para milhões o sonho de fama e dinheiro imediatos. A primeira empolgação necessária é a dos participantes, que enviam seus perfis e vídeos à emissora. Creio que a maioria, senão a totalidadde deles já foi apenas um expectador empolgado, seduzido pela ideia de se tornar rico e famoso apenas expondo sua própria intimidade. Um trabalho considerado talvez fácil para muitos. O que o Big Brother expõe, além da vida de seus participantes, é um traço lamentável da nossa sociedade: a busca de fama e dinheiro acima do mérito, a confusão entre artista e celebridade. Dá-se atenção demais a pessoas que não deveriam ser notáveis porque não têm muito a acrescentar.
Essa exibição, chamariz do programa, que incita a curiosidade natural de todo ser humano pela vida alheia, não é, em minha opinião, o que há de pior, embora também não veja nada de positivo nisto. O pior é a crença das pessoas de que elas estão vendo "a realidade". O ser humano "como ele é". Essa é a minha segunda hipótese de sucesso do programa. Mas nunca deixo de pensar que, se aquelas pessoas foram tiradas de suas vidas pessoais, confinadas em uma casa e postas em frente a câmeras, já se constrói um contexto cênico. As pessoas se tornam atores, ou como elas gostam de dizer, jogadores. Elas criam um personagem (quanto mais bizarro ou polêmico, mais sucesso junto ao público) e atuam. E se alguns alegam que é um programa real porque não existe roteiro, personagens e enredo prévio, eles se definem ao longo do programa, já que há uma edição das cenas e até mesmo inserção de trilha sonora em alguns momentos. Em suma, há recursos da teledramaturgia no recorte que se faz da realidade.
E com essa conclusão chego à terceira e derradeira (sei que isso deveria ser um post, não uma tese!) das minhas hipóteses: o BBB faz sucesso porque, com esses recursos teledramatúrgicos, os expectadores estabelecem uma relação de indentidade com os participantes. Em quantas edições já não houve a constituição da "turma do bem" e da "turma do mal" dentro da casa? Esse maniqueísmo move as pessoas. Elas torcem pelo perfil que elas assumiriam se estivessem no jogo.
Eu não critico pessoas que assistem ao programa, embora eu não seja uma espectadora assídua nem o ache propriamente divertido. Tenho amigos inteligentes, que leem, pensam, são até intelectuais e pós-graduandos, e que assistem ao BBB e adoram. Para mim, isso não é sinônimo de burrice ou falta do que fazer. É só uma escolha. Então, por que criticar as pessoas que não gostam dele? E não é por causa das razões "sociológicas", nem porque eu critico sem nunca ter assitido. Eu não gosto pela mais simples das razões: há coisa mais tediosa do que a mesmice, a mediocridade exposta?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sem promessas

Ano novo! Nem sempre nossa vivência ao longo do ano justifica o uso desse maravilhoso adjetivo. Então porque insistimos tanto em usá-lo?
Uma pessoa me disse no dia 31 de dezembro: "É, mais um ano termina... A gente faz um monte de promessa pro ano que vem mas não cumpre nem metade do que pensou por ano novo. Continua tudo igual".
Achei esse comentário triste, não pelas promessas não cumpridas, mas pela sensação de que continua tudo igual. Mudar é tão importante...
E por mudança não estou me referindo a coisas apoteóticas, a reviravoltas radicais que só acontecem nas comédias românticas hollywoodianas e nas novelas globais. As mudanças podem ser muito pequenas e silenciosas. Às vezes a gente até demora para se dar conta delas, de tão discretas elas são - não chegam de salto alto mas de chinelas de quarto, de modo que não ouvimos seus passos e não vemos sua chegada, e só nos damos conta delas quando bem instaladas dentro de nós. São essas mudanças que eu desejo para 2011.
Em toda passagem de ano eu reverencio a vida: eu adoro os fogos, o champagne, as roupas brancas, as calcinhas de diferentes cores atraindo diferentes benefícios, a lentilha para trazer prosperidade (e milhares de outras simpatias para atrair a boa sorte), mas, mais do que tudo, o abraço longo das pessoas que eu amo e aquelas palavras repetidas de sempre - muita paz, muita saúde - que valem mais pelo calor, pelo sentimento do que propriamente pelo que significam.
Eu reverencio o ano que passou e tudo de doloroso, desafiante, delicioso e excitante que me foi permitido viver. E reverencio a aventura de mais um ano. Desejando que seja bom, que seja pleno. Sem promessas. Apenas me comprometendo comigo mesma em ser mais feliz, mais leve. Acho que essa foi a grande lição que 2010 (um ano fantástico!) me ensinou: felicidade é leveza...
Partilho com vocês algumas palavras do Drummond (grande poeta das Gerais). Que 2011 seja um ano realmente NOVO para todos!

Previsão do Tempo para 1967 (lê-se 2011!)

Bom, se o ajudarmos
a ser bom. Céu claro,
se nossos pensamentos forem claros.
A luz começa
na boa vontade da alma - e dos olhos.
Somos responsáveis
pelo bom tempo:
compreensão simpatia impulso de ajudar
tornam belas as manhãs
e embalam as noites
em casa e no mundo.

(Carlos Drummond de Andrade)