terça-feira, 17 de julho de 2012

A poesia está viva, apesar dos inimigos de plantão

O inverno resolveu dar as caras em Campinas. Mas nem a chuva, nem o céu cinza, nem o ar gelado desanimaram os destemidos professores, escritores e apaixonados pela literatura e pela educação a irem até a Unicamp para mais um COLE (Congresso de Leitura do Brasil).
Ainda bem que as palavras aquecem o corpo, ainda mais quando literalmente ganham corpo. Hoje tive um momento raro de fruição da poesia. Mais do que voz, a poesia ganhou gesto. Os versos de Jeová Santana se levantaram da página com uma força incrível, através de Eliana Kefalás. Há tempos vivo essa verdade: versos foram feitos para dançar. E quando vi esta mulher mais do que declamando, mas vivendo com todos os músculos a poesia de Jeová Santana, não pude me conter em abraçá-la ao final do sarau e dizer: você realizou meu delírio mais profundo como poeta e professora de literatura. Quem dera um verso meu fosse assim tirado de sua casca de papel e tinta, e nascesse para os ares. Quem dera as escolas nos dessem espaço para fazer com que os alunos fruíssem o texto assim, que tivessem "no seio da palavra literária, o gozo", na expressão da própria Eliana, que hoje lançou seu livro: "Corpo a corpo com o texto na formação do leitor literário".
E foi também um grande prazer reencontrar Jeová Santana, esse escritor sergipano que, depois de boas incursões pela prosa, caiu nos braços da poesia - mas penso eu que ele já flertava com ela há muito tempo, pelo que pude conferir dos poemas do livro "Poemas Passageiros", também lançado hoje. Conheci Jeová por uma destas coincidências felizes. Estava sozinha numa livraria da Avenida Paulista, no lançamento de um livro de outro poeta, Fábio Weintraub. Estava na companhia apenas do livro de Fábio quando Jeová puxou conversa, e eu logo percebi que ele não era um paulistano. Não, não foi o sotaque, foi mesmo o gesto de conversar com um "estranho", tão incomum em uma cidade tão grande e tão apressada. Com a mesma simpatia e generosidade desta conversa, Jeová me enviou seus livros, "A Ossatura" e "Inventário de Ranhuras", meses depois. Agora estou aqui com "Poemas passageiros" em mãos, mas como uma criança que come um doce bem devagar para durar bastante, quero ler bem lentamente, um poema por dia. A poesia desacelera a gente. Pede tempo, atenção aos seus detalhes, seus caprichos. Não se pode ler poesia com pressa. A pressa é inimiga da diversão.
Para quem perdeu o lançamento hoje, vocês ainda tem uma chance de conhecer o poeta antes de que ele volte para as terras nordestinas. No sábado, 21/07, haverá o "lançamento paulistano" do livro, na Livraria da Vila. O convite está aí. Não percam!


Como disse Jeová, declamando seu mais recente poema (ainda inédito), "a poesia não corre risco de vida ou de morte, apesar dos inimigos de plantão". Então vamos ao encontro dela, sempre!