terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O último dia do ano

"O último dia do ano/ Não é o último dia do tempo". Assim começa um poema de Drummond. Desejamos - no fundo, não sabemos - que não seja o último dia. Que haja mais 365 dias, novinhos, prontos para serem preenchidos, no ano que começa daqui a algumas horas. Sabemos também que nada mudará miraculosamente. Mas não resistimos a esse chamado da esperança coletiva: a de que este ano tão duro está acabando, quiçá no próximo podemos recomeçar, senão tudo, algumas coisas, e errar menos, dançar mais, dormir melhor, rir com gosto e com frequência...
Então também eu não resisto e me entrego às reflexões típicas da data. O que fiz deste 2019? Como me defendi do embrutecimento generalizado? O que posso comemorar? Olha, apesar de tudo, não foi pouco. Foi um ano de muitas lágrimas, confesso, mas houve também muitos momentos felizes. Se eu fosse descrever todos, o texto ficaria longo demais, mas resumo algumas coisas que foram realmente importantes: escrevi dois livros ficcionais (um deles já encontrou sua casa editora, em breve vocês saberão, sou péssima em guardar segredos rs), metade da minha tese e dois artigos, um deles já publicado; fiz minha primeira viagem ao Oriente e conheci o Egito; conheci muitas pessoas interessantes e fiz novos amigos; voltei para as aulas de dança e comecei a aprender a dançar tango; visitei pela primeira vez um presídio, onde fiz uma mediação de leitura; conheci novas autoras maravilhosas da literatura brasileira, como a Micheliny Verunschk, a Juliana Leite e a Aline Bei; fiz um curso de roteiro e escrevi meu primeiro roteiro; fiz um passeio de balão pela primeira vez...
Olha, olhando para esta lista resumida, acho que 2019 foi pleno de dores, mas também de aventuras! Eu tenho muito a agradecer ao Divino e a todas as pessoas que trouxeram ao meu 2019 mais abraços, mais leveza, mais poesia, mais música, mais dança, mais amor... E que venha com mais em 2020! Um ano luminoso para todos nós! E que saibamos comemorar o fato de estarmos vivos! Para terminar com palavras de Drummond, havemos de amanhecer:

"Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer".
(Carlos Drummond de Andrade, "O último dia do ano")