terça-feira, 14 de setembro de 2010

As famigeradas e falaciosas mensagens encaminhadas

Nenhum período é tão oportuno para perceber as falácias e contradições do discurso humano quanto o período eleitoral. Assistir ao horário político é uma verdadeira lição sobre linguagem - especialmente no que se refere a discursos inconsistentes e argumentação duvidosa. Como ignorar o brilhante uso de rimas? "Vote no Tiririca, que pior não fica"? As coisas podem, sim, piorar muito. Mas esse texto não é mais um no meio de tantos protestos à candidatura deste palhaço (estou usando o termo em seu sentido literal), tão apedrejada, como se não houvesse outros palhaços (agora, no sentido figurado) que falam muito sério, fazem cara de respeito e não merecem nenhum respeito. Principalmente aqueles que já estiveram no poder, não trabalharam pelo bem comum e agora lançam idéias como "No nosso tempo, não havia fila nos hospitais", quando é de conhecimento geral que a saúde pública sempre foi insuficiente e sempre houve filas para consultas, exames, cirurgias, isso quando esses serviços passaram a ser oferecidos para a população em geral.
Mas quando o assunto sai da propaganda oficial e passa à não oficial, creio que as coisas pioram ainda mais.
Nesse sentido, acho notável o uso da internet nesse processo. Sim, estou falando das famigeradas correntes políticas que enviam aos nossos e-mails todos os dias. Mensagens encaminhadas, geralmente, já são, salvo as de utilidade pública, inconvenientes. Geralmente, seu teor é ingênuo, sentimentalista e pouco racional - pois se alguém pensar mais detidamente, vai perceber que passar determinada mensagem para 20 pessoas em 5 minutos (não pode ser 19 pessoas, hein, nem em 5 minutos e 10 segundos, viu?) não é um ato de fé ou solidaridade que faça com que Santa Teresinha abençoe sua vida e te conceda uma graça em 24 horas. As divindades não estariam acima do tempo?
No caso das mensagens encaminhadas de teor político, ocorre coisa semelhante. As pessoas repassam tais mensagens sem a menor preocupação em analisar criticamente seu conteúdo. É exatamente a mesma ação de repassar uma piada, uma corrente para salvar o Rodriguinho, uma mensagem do dia do amigo. Em suma, há aí um problema grave de leitura: decodificam-se as frases (que geralmente apenas reforçam, em sua maioria, preconceitos sociais e o nível de informação precário de nosso povo), mas não se analisa seu conteúdo.
Outra questão interessante nesse tipo de propaganda política não oficial é que ela, geralmente, é desprovida de comprometimento. Encaminhar um e-mail é uma atitude fácil, não produz embate, não exige que aquele que fala se disponha a justificar sua opinião, nem ouvir a do outro. Poucas pessoas respondem a esse tipo de mensagem. E assim, não se discute política - alardeiam-se uma série de ideias que não são contestadas, e por isso mesmo, não amadurecem, pois nunca são postas à prova.
Está cada vez mais difícil discutir política neste país. As falácias se percebem nos mais variados candidados, partidos e pessoas convencidas por eles, que mais parecem uma torcida organizada do que eleitores. Torcida de futebol é assim: movida pela paixão, defende o time em qualquer hipótese. E, infelizmente, vemos eleitores movidos pela emoção e não pela razão. Ao falarem sobre política, reproduzem apenas uma série de chavões que assimilam dos noticiários, especialmente se eles corroborarem uma visão de mundo arraigada na sociedade.
Mas também há o extremo oposto: a indiferença das pessoas pela política. Caminhando pela cidade nestes dias, pude ver as pessoas que carregavam placas de partidos. É também lamentável perceber que as pessoas não empunham bandeiras que acreditam. Aliás, parece-me que o caso não é elas empunharem bandeiras contrárias às suas crenças, mas não haver bandeira alguma em que acreditar. Essa é outra postura preocupante, num país cujas pessoas vão às urnas pela obrigação e dizem, sem medir as consequências do que significaria a realização deste desejo, que prefeririam não votar.
Posturas extremas que revelam que a relação do nosso povo com a política precisa ser repensada e reconstruída.

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