terça-feira, 19 de outubro de 2010

Meu tio José Ignácio

Falando do meu primeiro aprendizado da poesia, lembrei-me de meu tio José Ignácio - que na verdade é meu primo. É que famílias numerosas são assim: há sobrinhos que tem a idade dos tios. Naquele tempo em que as mulheres do campo passavam 15 anos consecutivos engravidando e parindo, às vezes mães e filhas (que começavam a produção cedo) tinham filhos na mesma época. Mas se eu for explicar mais sobre meus primos-tios (são tantos!!!) vou acabar não falando do meu tio Zé Ignácio, que é primo de meu pai e meu primo de 2o grau.
A família Ignácio de Souza (família de meu pai, Sebastião) também participou de meus primeiros aprendizados da poesia e uma lembrança forte que tenho é de meu tio Zé Ignácio declamando um poema. Foi a primeira vez que versos me chegavam ao ouvido assim, apenas na sua cadência de palavra, sem instrumentos musicais. Eu devia ter uns 6 anos de idade e me causou impressão sua declamação de um poema que depois vim a saber que se chamava "Meus oito anos", do poeta Casimiro de Abreu. Estávamos numa varanda, olhando o quintal, em que havia muitas árvores - queria dizer que eram laranjeiras, para ficar mais de acordo com o poema, mas a minha memória não tem essa precisão. Ele começou a declamar com sentimento, olhando as árvores, e depois me disse que tinha decorado isso na escola primária, quando era um pouquinho só mais velho do que eu.
Tio Zé Ignácio ainda mora em Cambuquira, no sul de Minas Gerais. Tem uma casa na cidade, mas de vez em quando se isola em um sítio onde cria abelhas, que fazem o melhor mel do mundo! Um sítio onde não há energia elétrica e onde ele gosta de ir pescar sozinho. Talvez para ouvir a voz das abelhas, dos peixes, do próprio rio.
Foi o primeiro filósofo que conheci.

Um comentário:

  1. O tio Zé Ignácio tinha que ler isso, Ju, de alguma forma... Lindo, lindo, lindo... Esse post e o anterior. Parece que eu fui a Minas com você, e comi a comidinha gostosa da Tia Julinha... Te amo, minha irmã. Sara.

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