sábado, 8 de janeiro de 2011

O Big Brother, o sonho e a realidade

Nesta semana, achei notável o número de programas, artigos e posts sobre o programa "Big Brother Brasil". Na TV paga, programas de "aquecimento" para a nova edição, que estréia nesta terça feira, mostravam melhores momentos das edições passadas. Na internet, textos que apresentavam novos participantes e elogiavam o programa, sem dúvida um sucesso de audiência, mas não uma unanimidade, já que outros o criticavam. E ainda havia alguns textos interessantes que criticavam os críticos, chamando-os chatos, enrustidos - como se fosse impossível não apreciar um programa tão divertido e para alguns edificante, já que um dos posts afirmava que o BBB apenas "expõe o ser humano como ele é", o que instigaria a reflexão.
Particularmente, fico contente com as opiniões divididas. Polêmica significa que as pessoas ainda pensam (ai, que alívio!!!) e que o fazem de maneira diversa. Acho o BBB um fenômeno no mínimo interessante. O que leva as pessoas a se empolgarem tanto com ele? O que leva as pessoas a se envolverem apaixonadamente, gastarem tempo defendendo ou atacando participantes na internet, votarem milhares de vezes em seus "desafetos", assinarem canais para assistir horas e horas do cotidiano exposto das pessoas? Se a gente parar bem pra pensar, o adjetivo interessante pode ser substituído por bizarro.
Há algumas hipóteses que eu formulei para mim mesma - por favor, não sou socióloga e não estou fazendo grandes elucubrações acadêmicas! São hipóteses que eu penso aqui comigo mesma, sem citar Marx, Weber, Elias, Castel, Baumann ou Jesus Cristo!
Uma delas é que o Big Brother representa para milhões o sonho de fama e dinheiro imediatos. A primeira empolgação necessária é a dos participantes, que enviam seus perfis e vídeos à emissora. Creio que a maioria, senão a totalidadde deles já foi apenas um expectador empolgado, seduzido pela ideia de se tornar rico e famoso apenas expondo sua própria intimidade. Um trabalho considerado talvez fácil para muitos. O que o Big Brother expõe, além da vida de seus participantes, é um traço lamentável da nossa sociedade: a busca de fama e dinheiro acima do mérito, a confusão entre artista e celebridade. Dá-se atenção demais a pessoas que não deveriam ser notáveis porque não têm muito a acrescentar.
Essa exibição, chamariz do programa, que incita a curiosidade natural de todo ser humano pela vida alheia, não é, em minha opinião, o que há de pior, embora também não veja nada de positivo nisto. O pior é a crença das pessoas de que elas estão vendo "a realidade". O ser humano "como ele é". Essa é a minha segunda hipótese de sucesso do programa. Mas nunca deixo de pensar que, se aquelas pessoas foram tiradas de suas vidas pessoais, confinadas em uma casa e postas em frente a câmeras, já se constrói um contexto cênico. As pessoas se tornam atores, ou como elas gostam de dizer, jogadores. Elas criam um personagem (quanto mais bizarro ou polêmico, mais sucesso junto ao público) e atuam. E se alguns alegam que é um programa real porque não existe roteiro, personagens e enredo prévio, eles se definem ao longo do programa, já que há uma edição das cenas e até mesmo inserção de trilha sonora em alguns momentos. Em suma, há recursos da teledramaturgia no recorte que se faz da realidade.
E com essa conclusão chego à terceira e derradeira (sei que isso deveria ser um post, não uma tese!) das minhas hipóteses: o BBB faz sucesso porque, com esses recursos teledramatúrgicos, os expectadores estabelecem uma relação de indentidade com os participantes. Em quantas edições já não houve a constituição da "turma do bem" e da "turma do mal" dentro da casa? Esse maniqueísmo move as pessoas. Elas torcem pelo perfil que elas assumiriam se estivessem no jogo.
Eu não critico pessoas que assistem ao programa, embora eu não seja uma espectadora assídua nem o ache propriamente divertido. Tenho amigos inteligentes, que leem, pensam, são até intelectuais e pós-graduandos, e que assistem ao BBB e adoram. Para mim, isso não é sinônimo de burrice ou falta do que fazer. É só uma escolha. Então, por que criticar as pessoas que não gostam dele? E não é por causa das razões "sociológicas", nem porque eu critico sem nunca ter assitido. Eu não gosto pela mais simples das razões: há coisa mais tediosa do que a mesmice, a mediocridade exposta?

Um comentário:

  1. Lia, adorei o texto!

    Você tem toda razão: sai ano e entra ano e o Big Brother continua pondo em cena o "dia-a-dia" dos participantes do mesmo jeito. O jeitão de telenovela que a emissora dá ao programa, embora seja o mesmo desde que ele começou, motiva cada vez mais a participação do público, talvez entusiasmado com a (suposta) interatividade possibilitada pelo programa, muito maior do que a possibilitada pelas telenovelas, cujo formato popularíssimo as fez cair no gosto do público desde que se inventou a TV.

    Também tenho amigos das mais variadas formações que assistem ao programa e adoram. Eu acho-o um saco desde que ele estreou...

    Bjinhos
    Dani

    PS: Gosto muito de ler seus textos. Queria ler sua peça quando ela estiver pronta (ou antes, se vc não se importar).

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