sábado, 12 de março de 2011

Verdade provisória

Era dia do seu aniversário. Um dia estranho, no qual ela se obrigava a parar para pensar na passagem dos anos. Para concluir que era como se eles não passassem. Ela se sentia a mesma, exatamente o bebê que gostava de colo, a menina que gostava de doces, a adolescente que gostava de beijos, embora fosse agora a mulher que sentia algumas amarras aos seus desejos e o peso das rotinas.
Era igual também seu amor aos amigos, aos abraços, aos presentes, aos brindes. Há decadas os recebia das mesmas pessoas, com alegria e gratidão sinceras.
Mas naquele dia, entre tantos telefonemas, sentia falta de um. O mesmo que não viera no ano anterior. Ela olhava a caixa do correio, a caixa de e-mails, procurava uma chamada perdida no celular. Era a esperança de que a ausência do ano anterior tivesse sido um lapso. Um esquecimento perdoável. Embora, antes, ele nunca se esquecesse, mesmo que estivesse do outro lado do mundo.
O dia e a esperança acabaram. Ela se sentou sobre seus pensamentos, lembranças. Em sua memória, apareceram dois amigos que se abraçavam em frente a um portão. Ele disse: "Eu te amo". Ela se sentiu especial e eterna. Ela ainda não sabia que aquela era uma verdade provisória.
Mas agora ela entendia: quando ele disse "eu te amo", queria dizer "o que sou neste momento ama o você de agora". Ele não disse que amava seu vir-a-ser. Ele não disse que amaria a sua continuidade modificada. Como ser em transformação, ele deixou de amá-la.
Conclusão inútil, que não aliviava em sua teimosa mania de continuar amando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário