terça-feira, 12 de abril de 2011

É preciso estar sempre bêbado

Hoje eu me lembrei de uns versos lindos de Baudelaire, que dizem que é preciso estar sempre bêbado. Antes que alguém me convide para entrar nos Alcoólicos Anônimos, esclareço que o poeta se refere a uma embriaguez de outra natureza: sem recusar a possibilidade de se embriagar de vinho, o poeta nos convida a estarmos bêbados de poesia, de virtude, enfim, da vida, da arte. É a única forma de não sentirmos nos ombros o fardo terrível do tempo...
E embriagada me sinto eu, nesta sucessão de dias em que não fiz mais nada além de ler e escrever teatro. Mas à diferença do vinho, as palavras não me entravam pela boca e subiam à cabeça - faziam o movimento inverso, de dentro pra fora, das víceras para os lábios, para os dedos. Eu tentava em vão me concentrar em outras coisas: Malu, minha personagem-sequestradora, me tirava dos afazeres, entrava na frente da televisão me dizendo aquela frase que deveria ser posta para explicar seu tormento, sua angústia mais profunda, seu medo mais agudo.
Meu reencontro com o teatro é como encontrar um amado antigo, que nem a mente nem o corpo conseguiu esquecer por 12 anos.
 

Il faut être toujours ivre.    
Tout est là:                             
c'est l'unique question.
Pour ne pas sentir
l'horrible fardeau du Temps
qui brise vos épaules
et vous penche vers la terre,
il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi?
De vin, de poésie, ou de vertu, à votre guise.
Mais enivrez-vous.


Charles Baudelaire.

Um comentário:

  1. Oi, Lia.

    Adorei seu post! Baudelaire tinha tanta razão ao sugerir que a gente se embebede da vida - quer coisa mais deliciosa que se embebedar de arte (e de vinho)? Mas concordo contigo: a literatura, o cinema e o teatro têm em mim um efeito mais embriagador que qualquer bebida alcoólica.
    Lia, tenho o pressentimento de que a Malu vai fazer muito sucesso. Você merece!

    Bjinhos e feliz Páscoa!
    Dani

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