sábado, 3 de agosto de 2013

Habitar a cidade

Julho passou como um sopro, ora frio, ora morno, em seus dias curtos. Houve muita vontade de escrever, mas fiquei distante de computadores, empenhada que estava em apenas contemplar paisagens, as conhecidas e as novas.
De férias da sala de aula, resolvi conhecer Campinas. Sim, eu moro em Campinas, há anos, quase décadas. Então parece estranho dizer que resolvi conhecê-la agora. Mas é que não a conheço tanto assim, confesso. Havia muitos lugares ainda por serem conhecidos. E muitos cujo conhecimento ainda foi adiado.
A verdade é que muitos de nós não habitamos as cidades onde vivemos. Habitamos nossas casas, nossos apartamentos, nossos locais de trabalho e estudo, nossos shopping-centers e supermercados, mas não habitamos nossas ruas, praças, prédios públicos. Não caminhamos devagar observando, sentindo o ritmo da cidade, como ela respira. Eu me peguei pensando isso em uma das caminhadas que fazia entre o bairro do Bonfim, onde moro, e o centro de Campinas.
Passei pelo Botafogo, por ruas de casas antigas, com jardins de rosas à frente e senhoras varrendo as calçadas. Passei por praças escondidas no bairro do Guanabara, com crianças brincando e pequenos restaurantes agradáveis onde se podia comer uma comida caprichada por um preço justo. Cheguei ao centro e o ritmo da respiração era outro: muitas pessoas andando, comprando, falando. Na praça em frente à catedral metropolitana, sindicalistas faziam discursos. Alheios, os anjos da fachada em sua imobilidade que se sobrepõe a todas as preocupações mundanas. Descendo um pouco, o Mercado Campineiro, com suas bancas de frutas e um bar delicioso, onde se podia provar chopps de lugares distantes e encontrar os amigos. A conversa sempre boa com a amiga e historiadora Juliana Meirelles foi tão longa que acabou no Café Regina, lugar querido a todos que habitam o centro da cidade. Estar lá é uma experiência que começa pelo olfato: sentir o cheiro delicioso do café torrado ali mesmo. E depois bebê-lo, é claro, bem devagar. A pressa é sempre inimiga da diversão. Depois saímos a caminhar pela praça do Carmo, um céu de azul muito macio envolvia a tarde de sábado. E como se as pessoas todas se soubessem envolvidas por ele, um clima de tranquilidade pairava sobre as mesas, nas calçadas, com pessoas de todas as idades e estilos.
Diante de tantas notícias que nos bombardeiam todos os dias sobre os males da cidade e da a violência urbana, deixamo-nos invadir por  uma insegurança constante, quando não por uma sensação de pânico.  E uma das consequências disso é que deixamos de habitar a cidade. Deixamos de ocupar seus espaços, que são nossos, e com isso, ela se torna cada vez mais degradada e à mercê daqueles que as usam como palco da criminalidade e do vandalismo. Eu adoro andar pela cidade. Ver as pessoas nas ruas, nos lugares públicos, porque isso é que dá alma à cidade. Só o ser humano pode dar sentido a paredes de concreto, a estruturas de aço e vidro.

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