Eu aqui de novo em meus diálogos com o Tempo, um dos deuses
mais lindos (não resisto, Caetano!)... E agora parece que estamos em trégua, o
Tempo e eu. Nesses dias de recolhimento, de ver o mundo pelos canais da tevê
aberta (que eu não assistia há meses), de conversar com pessoas queridas pela
internet ou pelo telefone, sem sentir o calor delas, Tempo e eu paramos de nos
provocar mutuamente. Não, ele não tem passado mais devagar, como eu supunha. Mas
eu deixei de olhar o relógio. E de reclamar dele, pedindo que ele não se
apressasse tanto. Estamos nos esquecendo mais vezes, deixando-nos passar sem
perceber.
Ontem, conversando com um amigo, ele me disse que minhas
palavras abriam um portal no espaço-tempo. Eu disse: sou eu não, moço, é a
poesia que faz isso. Entre muitos versos, eu realmente tinha ignorado o Tempo. Se
ele que é um dos deuses mais lindos fosse também um dos mais tiranos, teria me
castigado. Mas não, me deu um presente: eu olhei o calendário e vi que hoje é o
equinócio de outono. O verão está se despedindo e o outono vem de manso – eu já
o tenho sentido chegar há mais de uma semana. No vento noturno mais fresco, no céu
mais densamente azul, uma luz diferente que não sei explicar. Mas o verão, que
também não queria ir embora, se fez calor intenso nos últimos dias, e hoje
trouxe um céu de chuva para se despedir.
E eu aceno para o outono, minha estação preferida,
contemplando o que fica do que passa...
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