quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E onde está mesmo a literatura?


Gosto de ver telejornais enquanto almoço. Coisa de gente que não tem com quem almoçar, e parece que o momento da refeição pede vozes. Então, sem opção, ligo a televisão (ops, rimou!).
Na semana passada, vi uma reportagem sobre a Bienal do Livro - gosto de analisar reportagens sobre leitura e eventos relacionados a ela, pois sempre é possível perceber alguns conceitos e crenças gerais sobre a leitura, que precisamos discutir e, muitas vezes, transformar... Enfim (antes que o leitor perca a paciência), a reportagem falava de como a Bienal tem atraído crianças e jovens com o uso de novas tecnologias.
O curioso não foi ver uma série de crianças e adolescentes num dos standes da Bienal, absolutamente encantadas com o livro eletrônico. Quando entrevistada, uma delas disse: "É muito legal, a gente aperta um botão e aparece (sic) os desenhos do livro". O curioso mesmo foi ver a repórter comentar: "E cada vez mais crianças e adolescentes se mostram atraídas pelo universo da leitura", depois de comentar a transformação de livros juvenis em jogos, e mostrar um stande que mais parecia um fliperama.
Curioso porque eu não vi, na reportagem, nenhuma criança ou adolescente LENDO. Será que a repórter não percebeu que as crianças que ela filmou e entrevistou estavam atraídas pela tecnologia e não pela leitura?
Longe de mim criticar o uso das tecnologias visuais para atrair jovens leitores ao universo da literatura, o que é muito válido. Inclusive, creio que o uso de recursos visuais deve ter uma função artística conjunta com o texto (não deve ser mera reprodução do texto literário, mas pode ser uma forma de arte autônoma, que co-existe com o texto verbal e enriquece diferentes leituras). Mas, vendo esta reportagem, não pude calar as perguntas: onde está mesmo o atrativo da leitura? O valor da literatura em si, independente de seu suporte de veiculação? Enfim, estes leitores ultrapassarão o interesse pelo suporte e chegarão tão somente ao interesse pela literatura?
Perguntas que não querem calar...

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