quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O maravilhoso vir a ser



Fevereiro, mês tão esperado! Não, não é o carnaval que alimenta os sonhos dos jovens, mas as listas de aprovados nos vestibulares. Nas últimas semanas, foram muitos posts no Facebook celebrando aprovações nas universidades federais e estaduais. Os meus olhos brilhavam de contentamento quando via mais uma mensagem de um ex-aluno, com tantas interjeições que quase era possível ouvir seu grito de alegria. Tantas mensagens carinhosas de agradecimento pelos anos de ensino, paciência e muitas, muitas cobranças e puxões de orelha.
Mas essa sensação de vitória, de triunfo, não é o mais interessante, para mim. Lembrei-me de quando eu mesma vi que tinha sido aprovada no vestibular da Unicamp, de quando peguei um ônibus para ir até a universidade fazer minha matrícula. A sensação de andar por aquele campus tão grande, que possui ruas e avenidas, era muito mais do que o orgulho de ter ingressado, depois de um concorrido vestibular, em uma das maiores universidades do país. Era a sensação de que eu estava caminhando por uma nova existência, a qual eu não sabia exatamente como seria. A iminência de começar uma vida nova era deliciosa: carregar nos braços não apenas cadernos em branco, mas toda uma vida ainda a ser escrita.
Há alguns anos, era março; eu estava com minha irmã mais velha no carro e, no semáforo, fomos abordadas por calouros encharcados de tinta guache e felicidade. Naquele momento, vi-me aos 18 anos, pedindo moedas no mesmo semáforo, que foram muito bem gastas em chopp no final da tarde, que confraternizou calouros e veteranos. Entre as felicitações, estendi uma moeda a eles e segui meu caminho, mas a imagem daqueles jovens continuou comigo. Perguntei a minha irmã: “Você não tem saudade?”. Ela respondeu: “Do quê? De ficar no sol com a cara cheia de guache?”. Eu ri e falei: “Não, daquele vir a ser”. Ela me olhou pensativa e balançou a cabeça afirmativamente. Cheguei em casa naquele dia e escrevi para nós este pequeno poema:

30 anos
Saudades
daquele vir a ser :
sem rumo certo ou
certidão de posse,
carteira assinada,
chaves de todos
os tamanhos.

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