quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre aniversários e iogurtes

Aniversário. Amanhã eu comemoro mais um ano vivido e saúdo um novo ano que começa. Minha sensação de gratidão é imensa: eu vivi tanta coisa maravilhosa nesses 35 verões que ficam para trás... e também algumas coisas perturbadoras, dolorosas, enfadonhas – nesse pacote completo que é a vida.
Véspera de aniversário é uma data que traz muitas lembranças e muitas saudades. A gente se lembra das festas que já fez. Das pessoas que estavam nelas e não estão mais, e também daquelas que continuam nas suas festas e você as consegue visualizar no seu aniversário de 60 anos. E lembra até das tubaínas Maracanã e daquele bolo com glacê rosa dos seus 7 anos, em cujas laterais se notou, ao cantar o parabéns, as marcas dos dedos de todos os primos ... Aquelas festas com gente demais e comida de menos. Do luxo extremo da mãe perguntar o que a gente queria no almoço do dia do aniversário. Eu sempre pedia lasanha e comia 4 pedaços enormes, não sei onde ia se acomodar toda aquela massa, naquele corpo pequeno de criança. Não importa: no calor de fevereiro, eu deitava no piso da área de casa como uma jiboia que tivesse comido um boi. E ficava ali, jiboiando, feliz da vida...
Acaricio meu passado, minha infância pobre mas digna – explico: não se viajava para a Disney (no máximo, passávamos um domingão em Maranduba), mas não faltava carinho nem comida. E até algumas privações, lembradas hoje, têm sua graça. Eu sempre me lembro de um episódio hilário: na compra do mês (sagrada nos anos 80, com aquela inflação galopante), minha mãe comprava uma bandeja com 6 iogurtes, palavra refinada demais para nós, que falávamos danone. Éramos apenas 3 crianças e a dividíamos irmanamente em 2 danones para cada. Ao invés de tomar tudo de uma vez, eu tomei o primeiro e resolvi tomar o segundo apenas na semana seguinte.
Passaram-se 7 dias, e lá fui eu, salivando, à geladeira. Abri e vi o potinho de um branco opaco. Mas, ao pegá-lo, senti que ele estava leve demais e havia um furo na tampa metálica. Sim, alguém sorrateiramente fizera um pequeno furo e fora, provavelmente, tomando um gole de cada vez, furtivamente, toda vez que abria a geladeira, para que eu não percebesse. Senti-me infeliz, traída, roubada, o mundo me mostrava sua face mais cruel! Procurei minha mãe, minha avó, clamei por justiça! Nada foi feito. Aprendi a duras penas o sentido da palavra impunidade. O culpado nunca apareceu, mesmo com a minha investigação minuciosa. Esse mistério é uma névoa a envolver o passado dos Souza de Caçapava (à maneira dos Smith, de Yorkshire...).
Lição para a vida? Nunca deixe para a semana que vem o danone que você pode tomar hoje. Substitua a palavra danone por sua bebida predileta e vamos para o bar, comemorar meu aniversário! 

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