quinta-feira, 16 de maio de 2019

Muito além da fórmula da água

Pouca gente sabe, mas eu me tornei professora antes de completar a minha graduação, antes de ter licenciatura. Aos 19 anos, eu já estava em uma sala de aula, no período noturno, lecionando para pessoas mais velhas do que eu (e que tanto me ensinaram). Desde criança eu admirava meus bons professores e me sentia honrada com a possibilidade de me tornar um deles no futuro. Desde criança, eu gostava dos cadernos, dos livros, da lousa e do giz, levando mais a sério do que a maioria o brincar de “escolinha”. E o tempo passou, a criança cresceu, esse diminutivo desapareceu e a escola passou a ser não apenas meu local de trabalho, mas um espaço de vivências múltiplas que alimentou minhas reflexões, pesquisas, textos e afetos.
O que a educação fez por mim vai muito além dos diplomas e qualificações profissionais. Eu faço parte da primeira geração da minha família que frequentou escolas. Que não precisou pegar na enxada antes dos 10 anos. Não havia livros na casa dos meus avós. E poucos, na minha casa de infância (a Bíblia e volumes da Enciclopédia Barsa, que ainda se vendia de porta em porta). A escola me trouxe livros nos quais eu aprendi muito mais do que a fórmula da água ou a multiplicar 7 X 8... Livros que me mostraram realidades diferentes, lugares distantes, ideias diversas. E mais: a escola me trouxe pessoas que me ensinaram a pensar, a conviver, a lidar com o que eu era e com o que eu queria me tornar. A escola me permitiu reavaliar os preconceitos que eu recebi, ressignificar algumas verdades e me tornar uma pessoa melhor (e que ainda precisa melhorar muito)... Porque a ignorância, como bem disse Renato Russo, é vizinha da maldade.



Meus colegas e alunos em manifestação na Avenida Paulista, 
em defesa das escolas e universidases públicas! <3 #15M


A educação me permitiu escolher minha profissão e atuar no desenvolvimento das pessoas. Foi para isso que eu me tornei professora: para ver gente aprender, crescer, brilhar. Eu dediquei os últimos 20 anos da minha vida aos estudos, à pesquisa e à docência para isso. A coisa mais maravilhosa do mundo é ver o brilho no olho de um aluno quando ele entende um texto ou um conceito, tem uma ideia, cria um poema, um projeto, um experimento... E o que há de mais triste para mim, nesse momento, é ver a desesperança no olhar desses alunos diante das ameaças ao orçamento das escolas e universidades. É ver parte da sociedade brasileira apática diante do desmonte da educação pública. Porque isso significa condenar essas crianças e jovens ao não desenvolvimento, a permanecer, na melhor hipótese, no mesmo lugar cultural e social, sem chances de mudar, de se reinventar, de fazer algo relevante nas próprias vidas e no mundo.
Não deixemos que isso aconteça. Não deixemos que o projeto de falência da escola pública prossiga, projeto esse que tanto interessa aos grandes empresários da educação, que tem transformado a educação em mercadoria (nem sempre de qualidade) para quem quiser ou puder pagar. Defendam a escola pública, briguem por ela, exijam sua melhoria! Por favor, Brasil, nunca te pedi nada!

2 comentários:

  1. Texto Perfeito! Não podemos deixar um idiota(ou um grupo deles) acabar com a educação do país!

    leandroloc@yahoo.com.br

    ResponderExcluir