Também a vida é feita de felicidades repentinas. Acordamos,
saímos à rua e não sabemos o que nos aguarda depois daquela esquina. E talvez a
manhã, generosa, traga-nos cheiro de pão fresco. Uma floricultura com suas
flores regadas. Ou uma pessoa querida há muito não vista.
Para mim, isso também é poema. A vida no seu imprevisto,
mesmo que pequeno, mesmo que discreto: algo interessante que capture o meu
olhar, me suspenda no tempo, me faça fugir por alguns segundos da mesmice que
sufoca.
E quando essa felicidade repentina traz literalmente poemas
e pessoas (e pessoas que são quase poemas)? Foi isso que aconteceu nessa
semana. Eu estava na universidade, dentro da biblioteca, fazendo aquela
balbúrdia (escrevendo tese!) e recebi um convite lindo para almoçar com amigas
queridíssimas, Mariana e Milena. Essa eu não via desde o ano passado, ela não mora
em Campinas e eu fiquei feliz demais com a surpresa.
Versos para se devorar com deleite. E o melhor
é que você pode comê-los sucessivas vezes!
Fui à casa de Mariana. Abraços. Como você está? Barrocas,
enlouquecidas (foram os adjetivos mais usados). Cozinhamos juntas, enquanto
compartilhávamos novidades e ideias e confissões, num ritual muito singular e
muito feminino. Músicas bonitas para acalmar o coração. Maçã com limão cravo e
sal, novidade de Milena. Sabores novos, afetos conhecidos.
E depois de comer muito e bem, nós três nos jogamos no
tapete azul da sala, rodeado pelos muitos livros que Mariana mantém ali, ao
alcance dos olhos e das mãos, para que seus hóspedes se deixem ficar (como se
já não fosse suficiente sua presença para não querermos ir embora e sim morar
naquele tapete). Lemos poemas de Hilda Hilsti e Sophia de Mello Breyner
Andresen. Sobremesa mais que maravilhosa. 5 mulheres deitadas sobre versos,
cobertas de versos, vestidas de versos, saboreando-os lentamente ao ouvi-los
sair das páginas e dos lábios das outras.
Foi tão espontâneo e bonito que saí de lá não só com a
barriga, mas a alma cheia! Se essa não for a função da poesia, não sei pra que
serve, não!
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