Tenho dançado todas as quintas-feiras. Se o leitor releu o
título do texto, não estranhe a frase. Dança é poema e poema é dança: movimento
que se recusa a ser a linguagem – seja no verbo ou no corpo – comum,
mecanizada, de todo dia. Então que esse encontro marcado com a dança, todas as
quintas - um privilégio que me dou na hora do almoço, incluindo no dia um outro
tipo de alimento – tem me deixado louca para escrever. É como se eu começasse a
escrever enquanto danço e, escrevendo, eu continuasse dançando.
O difícil é voltar à biblioteca. Sentar-me diante do
computador e conter toda a poesia que me conduz em passadas ora largas, ora
curtas, com pausas inesperadas como a iminência de um beijo, seguidas de
sinuosos floreios em que pernas desenham no chão “ss” perfeitos e de giros e
giros e giros que mais se assemelham ao voo curto de ave assustada. Difícil obrigar-me
à imobilidade, silenciar a música que ainda mora nos músculos, encerrar toda poesia-dança
no fundo de um arquivo.
Acho que não estou tendo muito sucesso, porque
aqui estou eu escrevendo sobre a poesia de que preciso me despedir por ora,
sabendo que, talvez, em poucos minutos, já me entrego de novo a mais um poema
que me tira para dançar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário