sexta-feira, 24 de maio de 2019

Pão-poesia

Tenho dançado todas as quintas-feiras. Se o leitor releu o título do texto, não estranhe a frase. Dança é poema e poema é dança: movimento que se recusa a ser a linguagem – seja no verbo ou no corpo – comum, mecanizada, de todo dia. Então que esse encontro marcado com a dança, todas as quintas - um privilégio que me dou na hora do almoço, incluindo no dia um outro tipo de alimento – tem me deixado louca para escrever. É como se eu começasse a escrever enquanto danço e, escrevendo, eu continuasse dançando.




O difícil é voltar à biblioteca. Sentar-me diante do computador e conter toda a poesia que me conduz em passadas ora largas, ora curtas, com pausas inesperadas como a iminência de um beijo, seguidas de sinuosos floreios em que pernas desenham no chão “ss” perfeitos e de giros e giros e giros que mais se assemelham ao voo curto de ave assustada. Difícil obrigar-me à imobilidade, silenciar a música que ainda mora nos músculos, encerrar toda poesia-dança no fundo de um arquivo.
Acho que não estou tendo muito sucesso, porque aqui estou eu escrevendo sobre a poesia de que preciso me despedir por ora, sabendo que, talvez, em poucos minutos, já me entrego de novo a mais um poema que me tira para dançar.

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